“Não sei quem inventou isso”, diz Caroline Sunvold, uma ex-DCC, na série. “É isso que meio que rasga os quadris das pessoas.” Ela deveria saber. A Sra. Sunvold, ainda na casa dos 20 anos, passou por uma cirurgia no quadril e no joelho e, em algumas cenas, depende de um andador enquanto se recupera.
No entanto, ela sente muita falta do time e parece um pouco perdida em sua vida pós-torcida. “É como se a terra do DCC fosse um mundo mítico e mágico”, ela diz. “E quando você começa a beber aquele Gatorade, você não quer mais sair.” A Sra. Sunvold até oferece treinamento de audição do DCC para sua irmã mais nova, Anna Cate, que fica muito feliz quando ela também entra para o time.
Além de todos os outros atributos, o DCC — e esta série — promove a doçura tradicionalmente feminina, a presteza e os valores familiares das dançarinas. A torcida é, por definição, dedicada a celebrar o sucesso dos outros.
“Pensar nos outros é o que as líderes de torcida fazem”, lembra a Sra. Finglass às suas dançarinas.
Também pode ser uma tradição familiar, e conhecemos várias mulheres cujas mães também torceram pelo DCC décadas atrás e continuam profundamente investidas na organização. A ênfase no altruísmo e na tradição é recorrente, assim como as referências à fé cristã. Dançarinas são filmadas conversando calorosamente com moradores de um asilo para idosos, rezando antes das refeições e participando de um culto evangélico (onde o pastor grita: “Deus ama o Dallas Cowboys!”). O programa dedica um tempo considerável de exibição à dançarina novata, Reece Weaver, uma ex-Miss Flórida’s Outstanding Teen de fala mansa que diz que dança apenas para “dar glória a Deus”. A Sra. Weaver estava noiva durante a série, e seu noivo (agora marido), ela diz, foi o único rapaz que ela permitiu que colocasse o braço em volta de seus ombros.
Essa insistência na inocência antiquada e feminina aparece até no título da série. A DCC chama seus membros de “queridinhos da América” — um termo antiquado que diz muito. “Queridinha” evoca uma ingênua em um filme dos anos 1950 — algo como uma namorada, mas sem nenhuma sexualidade adulta. Com esse título retrô, a DCC se declara a companheira casta não apenas do Dallas Cowboys (cujos jogadores eles são contratualmente proibidos de namorar), mas de toda a América.
Podemos conciliar a vibe “queridinha” com o visual bombástico e os movimentos sedutores do DCC? Na verdade, não. A contradição inerente de mulheres tentando defender a integridade de torta de maçã enquanto vestem tão pouco e dançam tão provocativamente está no cerne desta série, um lembrete de que a dicotomia Madonna-prostituta ainda está viva e, hum, ativa, na cultura popular.